quinta-feira, 20 de fevereiro de 2014

Tiro em Segunda Pessoa: Brütal Legend - Um review-tributo à Ormagöden.



Drown your tears in me my dear 

As you drown, my dear, in me.”



          Brütal Legend, assim como virtualmente todos os games de Tim Schafer (designer por trás de Grim Fandango, Psychonauts e Full Throttle), é um jogo autoral. Em outras palavras, Schafer dá sua cara aos seus jogos, e isso é intensificado em BL, visto que o designer é um metaleiro assumido e sempre teve vontade de participar em um game com essa temática. O game é uma ode ao Metal, apresentando milhares de referências, seja nos diálogos, nos cenários ou nos personagens.

          Nosso protagonista, Eddie Riggs, é o roadie da Kabbage Boy, uma boy band de relativo sucesso que está muito mais para o pop do que para o Metal. Durante um show, há um acidente no palco e o roadie é esmagado ao salvar um dos integrantes da banda. Sangue cai na fivela de Eddie, o palco se transforma em uma criatura que o leva para a “Era do Metal”. Ao acordar, ele se encontra com Ophelia, uma habitante daquele mundo que estava lutando contra demônios. Por meio dela, ele descobre que está no Templo de Ormagöden, a besta de fogo e metal a partir da qual toda aquela terra foi criada.


          Juntos, os dois fogem do templo e chegam ao acampamento de Bladehenge, onde o roadie conhece Lars e Lita, que se recusaram a ser subordinados dos demônios que povoam o Mundo do Metal. Após alguma discussão, eles concluem que a fivela de Eddie na verdade é um amuleto do Ormagöden, que trouxe “o escolhido” para lutar “pela honra de Bladehenge, pela liberdade do seu povo, e pela glória do seu Metal”.

Eddie, Lars e Lita

          A história, a princípio simples, vai se desenrolando em meio a vários plot twists, crescendo e se tornando um conto épico aos poucos.  

Se a batalha contra a Metal Queen não é épica, eu sinceramente não sei o que ela é

          O game tem gráficos bonitos, mas nada espetacular. Seu estilo artístico é bem cartunizado, o que combina muito bem com a veia cômica de Schaffer que permeia o game. Expressões faciais exageradas contribuem para as piadas, que por si só já são hilárias e muito bem escritas, assim como todo o texto de Brütal Legend.

          O design é sem dúvida o ponto alto do jogo. Seja nos cenários ou nos personagens, ele beira o primor em termos de criatividade. Praticamente TUDO é uma uma metáfora ou uma referência à cultura do Metal, e no frigir dos ovos, as partes se complementam formando um universo coeso.

          Você vai morrer de rir com a genialidade dos designs, como o dos Headbangers, que no começo são escravos que quebram rocha com a cabeça. E bom, como tudo que eles fazem na vida é headbanging, logo o pescoço deles é ABSURDAMENTE musculoso.


          Ou os Reapers, que sim, são aspectos da Morte. Entretanto, imagina como deve ser um serviço chato sair pelo mundo ceifando vidas como profissão, sem fim de semana ou férias remuneradas. Para mitigar isso, os Reapers saem para ganhar seu pão de cada dia equipados com seus headphones para pelo menos apreciar um Death Metal durante o expediente.


          Várias locações do game também são referềncias, como as Minas de Gelo Seco, Beerhenge, onde está a Sagrada Árvore de Cerveja, a Muralha Gritante, que é feita exclusivamente de caixas de som e Bladehenge, onde são encontradas espadas gigantes enterradas por todo lado.



A Sagrada Árvore de Cerveja...

...e a Muralha Gritante são dois lugares que eu gostaria de visitar

          O mundo de Brütal Legend como um todo tem aquele toque de Tim Schafer, onde há vários elementos do cenário altamente conspícuos e por vezes intrigantes, mas sobre os quais absolutamente nada é dito. Isso acaba por enriquecer as paisagens e o universo do jogo, na medida em que você percebe que aquele mundo tem uma história muito mais complexa do que a retratada por meio de diálogos. Em outras palavras, Schaffer mais uma vez consegue dar pistas sobre a história do mundo que ele criou por meio do design, de maneira completamente não-verbal, técnica já utilizada por ele várias vezes.


          Outro ponto forte do game são as participações especiais de grandes nomes do Heavy Metal, que cedem suas vozes aos personagens que são suas contrapartes no Mundo do Metal. Bom, pra começar, Eddie Riggs é dublado pelo nosso querido Jack Black.

Riggs (quero dizer, Jack) promovendo o game

          Outras celebridades que fazem parte do cast são: Lemmy Kilmister, Rob Halford, Lita Ford e pasmem, o príncipe das trevas em pessoa, Ozzy Osbourne, que encarna o Guardião do Metal, com o qual você compra seus upgrades.

Metal noise, blood and fire, tell me what you most desire.” - Guardian of Metal

          O game é um amálgama de vários gêneros, dentre os quais Hack and Slash, RTS e Sandbox são os principais. O Hack and Slash é excessivamente simples, sendo que vocề pode desferir golpes com seu machado e usar magias com a sua guitarra. Não há outras armas, só upgrades para as já citadas. Há a possibilidade de se adquirir novos golpes, entretanto são muito poucos e não proporcionam uma grande variedade de combos, o que pode tornar o game repetitivo às vezes. No melhor estilo Ocarina of Time, você também utiliza sua guitarra ao tocar solos para realizar ações específicas: invocar seu carro, revelar segredos do cenário, causar dano nos inimigos, etc.

          Sabendo que RTS não é um gênero tão consolidado, ainda mais em consoles, a equipe de Schafer tentou ao máximo incorporar tal gênero a um contexto e jogabilidade de game de ação, simplificando comandos ao máximo e usando recursos como a capacidade de voar pelo cenário tanto para que você possa comandar suas tropas melhor, quanto para que você possa atuar de maneira ativa nas batalhas, chgando rápido a algum ponto onde você precise combater inimigos. É diferente, mas ao mesmo tempo lembra um pouco o conceito de Herói, que foi introduzido em Warcraft III, visto que seu personagem principal é parte ativa da estratégia. Cada um dos personagens secundários é uma unidade e pode realizar um ataque combinado com Eddie. Por exemplo, os Headbangers podem executar o comando “Mosh Pit”.

          Considero a parte de sandbox a mais interessante das 3, já que ela se aproveita muito do excelente design do cenário para te instigar a desbravar o vasto mapa do game. Ao explorar esse mundo, você encontrará uma quantidade obscena de coletáveis e segredos, que é mais um incentivo para que você aproveite seu tour pelas Terras do Metal.
O (não tão pequeno) mapa de Brütal Legend

          Seu carro, o Deuce, é o principal meio de locomoção no game e possui uma física totalmente irreal, já que parece pesar o mesmo que uma folha de papel na maior parte do tempo. Isso é em parte positivo, visto que facilita a exploração do cenário, fazendo com que localidades menos acessíveis possam ser alcançadas sem perigo do seu carro capotar e/ou explodir (GTA já me proporcionou momentos de ódio com isso, diga-se de passagem).

O Deuce. Existe maneira mais apropriada de se passear pelas terras do Metal?

          Por ultimo, mas de maneira alguma menos importante, temos a trilha sonora, que é uma benção aos ouvidos de qualquer fã de Heavy Metal. São ao todo 107 músicas de 75 bandas diferentes, que englobam os mais diversos sub-gêneros do Metal. Mesmo os que não são ouvintes assíduos desse tipo de música vão reconhecer algumas bandas: Motörhead, Tenacious D, Scorpions, Manowar, Judas Priest, Black Sabbath e Ozzy Osbourne (a cena na qual toca “Mr. Crowley” é uma das mais importantes da história, sendo que tal cena foi baseada na letra da música). Em suma, poucas vezes uma trilha sonora não original se mesclou tão bem a um game.


          Brütal Legend é um game que merece ser jogado, independentemente de você ser um ph.D. em Heavy Metal ou simplesmente alguém que ouve ocasionalmente esse gênero musical. Na verdade, mesmo se você não curte, dê uma chance ao game, pois ele ainda se sustenta como um jogo inovador ao unir mecânicas distintas e que de quebra tem uma história envolvente. Então aproveite esse game fantástico e...

...seja bem vindo ao Mundo do Metal!


Brütal Legend foi lançado em outubro de 2009, sendo desenvolvido pela Double Fine e publicado pela Electronic Arts. Classificação: 17 anos. Encontram-se disponíveis versões para PS3, Xbox 360 e PC (Windows, Mac e Linux).
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