segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

Tiro em Segunda Pessoa: Spec-ops: The Line – A desconstrução de um gênero


“Já está se sentindo um herói?”

Nunca me considerei um fã de filmes de guerra, visto que o patriotismo exacerbado e a fantasia de poder do soldado indefectível, tanto física quanto moralmente são características que não me agradam nesse gênero. Entretanto, minha opinião mudou quando fui apresentado à “Platoon”, “Nascido para matar” e “Apocalypse Now”, filmes que rejeitaram esse molde criado pela indústria hollywoodiana ao retratar a guerra como uma série de eventos dramáticos, onde valores são colocados em cheque e a sanidade é facilmente perdida. A partir daí, admiti que essa temática batida, se bem aproveitada, pode sim gerar obras-primas.

Após jogar Spec-ops: The Line, percebi que “guerra” pode deixar de ser meramente um lugar-comum nos games também.

História:

Seis meses antes do início do game, uma série de tempestades de areia muito intensas atingiram Dubai, nos Emirados Arábes Unidos, levando à evacuação de uma elite. O coronel John Konrad e sua unidade, o trigésimo terceiro batalhão, se ofereceram para ajudar na evacuação dos civis que permaneceram na cidade. 

Dubai da vida real

Dubai spec-ops

Entretanto, após a chegada do 33º batalhão, as tempestades se intensificaram e todas as comunicações com Dubai caíram. Duas semanas antes do início do game, um sinal de rádio amplificado foi captado pelos EUA. A mensagem era de Conrad, comunicando que a evacuação de Dubai havia fracassado.

Respondendo a isso, os EUA mandaram uma unidade constituída por 3 homens da Delta Force para averiguar a situação, tanto do 33º quanto de sobrevientes, e daí contatar o exército para a extração. Essa unidade constitui os (anti) heróis da nossa história.

Você assume o papel do Capitão Martin Walker, o comandante dessa missão de reconhecimento, contando com a ajuda do Tenente Alphonse Adams, o badass motherfucker padrão, e do Sargento John Lugo, o alívio cômico do game. A premissa soou batida pra você? Na verdade, isso é proposital e visa te dar a falsa impressão de que você irá jogar mais um shooter genérico. Entretanto, após algumas horas de gameplay, você verá o quanto esse game é diferente e como a história contribui para isso, constituindo o ponto alto de Spec-Ops. 

A medida que você prossegue no game, decisões difíceis devem ser tomadas, você se depara com situações dramáticas, os personagens começam a mudar e questionar a si mesmos e à missão, gerando discórdia entre os membros da equipe. Enfim, o tom da narrativa muda drásticamente ao longo do jogo, tornando Spec-Ops uma desconstrução do gênero “game de guerra”.

Vale ressaltar que o game é assumidamente baseado em 'Heart of Darkness', romance do inglês Joseph Conrad que, para quem não sabe, foi o livro que inspirou Apocalypse Now. Inclusive, o game faz várias referências a essas obras. Por exemplo:

Joseph Conrad + Coronel Kurtz (personagem do livro/filme) = Coronel John Konrad


Jogabilidade:

Trata-se de um game de tiro em 3ª pessoa, cover based, o qual não apresenta nenhuma grande novidade em termos de jogabilidade quando comparado à diversos shooters.   O sistema de cover não foi tão bem implementado, ainda devendo muito para, por exemplo, Gears of War. Ao tentar alternar entre pontos de cover, muitas vezes acabava saindo no meio do campo de batalha, completamente desprotegido.

Você também pode dar ordens aos seus companheiros, mas estas se limitam a usar flash grenades e se focar em um inimigo specífico, diminuindo as opções do ponto de vista tático.  Dada a ambientação, a areia constitui um elemento estratégico que influencia em como você enfrenta os inimigos no game, seja quando ocorrem tempestades de areia que te cegam ou quando  você deve atirar no teto para soterrar os inimigos. 

Ao longo do jogo você tem algumas escolhas a serem tomadas, e ao contrário de vários games, não são tomadas por meio de um comando, como em Bioshock. Em vez disso,você deve controlar seu personagem para realizar as escolhas, o que dá mais peso às suas ações. Isso é um fator altamente positivo, já que Spec-ops é sobre ações e consequências.

Gráficos e Som:

Eu fiquei impressionado ao jogar no X360, pois a primeira vista, o jogo é lindo, seja graças à excelente iluminação ou ao cenário em si, que é a definição de grandiosidade. Alguns problemas, como serrilhamento dos gráficos e efeitos de partículas não tão bem trabalhados para um game em um deserto. Entretanto, ainda é um jogo muito bonito e que não desaponta no quesito gráfico.

A dublagem é muito boa, demonstrando muito bem o estado físico/mental dos personagens ao longo do game. Do início leve ao fim altamente dramático, as interpretações convencem. Um ponto interessante é a mudança das linhas de diálogo, dos modelos dos personagens e de algumas animações à medida que a história prossegue, o que condiz com a degeneração dos personagens. Por exemplo: No começo do game, o Cpt. Walker fala “Hostile down” ao matar um inimigo. Ao final, a frase se torna “Kill is fucking confirmed”.

Mudança do Cpt.Walker ao longo do game, artíficio já usado em games como Shadow of the Colossus, mas nunca de maneira tão agressiva quanto em SO: The Line.





A trilha sonora, por sua vez, é constituída principalmente por rock durante as batalhas, o que em minha opinião funciona bem no começo, quando você ainda não foi apresentado à premissa de crítica ao gênero, mas que depois fica um pouco fora de contexto. Entretanto, há outras trilhas que não remetem a esse gênero musical, como a “Final”, que se encaixa prfeitamente na cena em que é tocada e me lembrou bastante das composições de Akira Yamaoka (que compôs a trilha dos primeiros games da série Silent Hill).


Ou seja:

Spec-Ops: The Line é um marco em se tratando de games de guerra, graças à experiência única que ele gera ao distorcer uma fórmula cimentada por franquias como CoD e BF. Entretanto, mecanicamente, ele não tem nada de inovador, sendo um shooter regular em termos de jogabilidade.



Portanto, é um jogo recomendadíssimo se você não quer somente atirar em seus “inimigos”, mas também refletir sobre isso e descobrir que soldados, antes de mais nada, são seres humanos.


Spec-Ops: The Line foi lançado em 26/06/2012 pela 2k Games, produzido pela Yager. Classificação 17 anos e está a venda para PC, XBOX 360 E PS3.
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